Nillismo e a crise dos valores morais

  • Jorge Conceição
  • Tiffany Demogalski
Palavras-chave: Nillismo, Pluralismo ético, Ética da incerteza, Moral de Rebanho, Vida.

Resumo

Este artigo objetiva demonstrar a importância da concepção de niilismo nietzschiana na compreensão da noção de moral de rebanho. Esta temática torna-se relevante, na medida em que não é possível pensarmos as questões éticas hodiernas sem dissociá-las da ideia de pluralidade ética. Segundo Bauman, o pluralismo ético implica em uma ética da incerteza, uma vez que evidencia a impossibilidade de uma ética universal, pois o outrem, que sempre foi pensando como alteridade nos sistemas éticos modernos, agora representará uma ameaça, dada a incomunicabilidade de valores morais comuns.  Em vista desta problemática, a concepção de niilismo nietzschiana nos permite interpretar o pluralismo ético não como a moral da incerteza como indica Bauman, mas sim como o fim da moral de rebanho, pois o homem tornará senhor de si mesmo, assim os valores morais não são determinados por estatutos religiosos ou partidários, mas sim pela própria consciência moral.  Ao tematizarmos o termo do niilismo em Nietzsche, não há como não citar Dostoievski, em particular a obra Os Irmãos Karamazov. Nessa obra, o personagem Ivan diz o seguinte: “Se Deus não existe, tudo é lícito.” Podemos classificar esse juízo presente na obra de Dostoievski como um juízo hipotético, mas não podemos interpretá-lo logicamente, mas sim a partir do efeito psicológico desse juízo, uma vez que a hipótese da não existência de Deus tornaria tudo permitido, neste sentido, a morte de Deus implica em uma ressignificação dos valores morais, o que em tese, implica na impossibilidade de valores universais. Observado isso, destacaremos aqui apenas a desvalorização dos supremos valores com os quais o homem interpretou a vida, e chamaremos essa desvalorização de niilismo. Para isso, analisaremos o conceito de niilismo em comparação com a ética kantiana e a ética da incerteza, essa comparação torna-se necessária em vista de que o objetivo aqui é compreender a desvalorização dos supremos valores, que é uma das características do niilismo, dado a inviabilidade de uma ética universal. É ainda importante observar, que Nietzsche não escreveu uma obra exclusiva para debater este tema, encontramos o tema do niilismo em diversas obras do autor, por exemplo, Assim falou Zaratustra, A Gaia ciência dentre outras. É importante ressaltar que, por desvalorização dos valores morais compreendemos a descrença nas categorias de fim, unidade, ser. Para fundamentar a nossa argumentação, utilizaremos como base trechos da obra A Vontade de potência. Nessa obra na seção 12, Nietzsche afirma que o niilismo como estado psicológico é decorrente da nossa crença nas categorias de fim, totalidade e ser. Por essa razão, qualquer sistema moral teleológico ou deontológico não terá validade universal, pois a ideia de fim, totalidade e ser são conceitos vazios e incomunicáveis, logo o discurso ético funda-se a partir do niilismo. Por fim, o niilismo é reconhecimento da nulidade dos valores morais universais. A contestação da nulidade dos valores morais universais nos impede de interpretar outrem como ameaça, dado que os nossos valores morais são nulos, o que nos permite debater o tema da pluralidade ética não a partir da oposição de valores morais, ao invés disso, isso nos permite identificar os sistemas éticos como ferramentas úteis para a conservação da vida.

Publicado
2016-11-08
Seção
Pedagogia