O LUGAR DOS PAIS NA CONSTRUÇÃO DO CASO CLÍNICO E NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO DA CRIANÇA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Jaqueline TOZATO
Palavras-chave: Psicanálise, Sintoma, Criança, Mãe

Resumo

O presente artigo irá abordar, a partir de um relato de experiência, o lugar que os pais ocupam na prática analítica com crianças e o papel que representam na construção de um caso clínico e na direção do tratamento. O relato deste caso foi à posteriori aos atendimentos e foi construído em torno da relação mãe e filho e sua função no sintoma da criança. No período que compreendeu o tratamento surgiram questões sobre a prática psicanalítica com crianças que o contato com a orientação lacaniana permitiu rever o caso sob outra perspectiva ao qual foi conduzido. Esta criança, que será referida como João, apresentava uma série de comportamentos de inquietação. Sua mãe, Alice, ao discursar a seu respeito fazia semblante de tristeza e pesar. Os contatos diretos com Alice e a observação da relação mãe e filho durante as sessões sinalizaram um desconforto vivido por ambos. Partindo do pressuposto lacaniano de que o sintoma da criança representa uma verdade do casal familiar ou da subjetividade da mãe, a releitura deste caso irá colocar a relação mãe-filho como centralizadora na descoberta do Inconsciente e constituição do sujeito, assim como na formação do sintoma.  Amparada na visão lacaniana de um sujeito que se estrutura a partir do desejo do Outro, e aqui se entende “Outro primordial” como aquele que se apresenta como uma referência a criança, nasce à seguinte questão: Que lugar João ocupa no desejo de sua mãe? Tendo em vista este questionamento e compreendendo a partir dele o laço com os pais como fundamental na estruturação do sujeito, a psicanálise com crianças resguarda um lugar singular as figuras parentais, isto é, a criança não vem sozinha até o consultório, ela vem acompanhada por seus pais que demandam algo do analista, logo, essa criança vem “falada”, a ela ainda não foi permitido formular uma questão, exceto pela via do sintoma. No decorrer desta produção será possível verificar que a intervenção psicanalítica com crianças é uma prática que viabiliza uma aposta no sujeito, ofertando um espaço de escuta para seu questionamento e oportunizando a possibilidade de reescrever sua história. Construir um caso é um processo que visa ir além daquilo que o sujeito se queixa. É somente pela análise cuidadosa do que o paciente ou responsável por ele traz é que temos elementos para sua construção. Nesse sentido, a interpretação empregada nesse processo coloca o analista na posição daquele que revela uma verdade e que participa ativamente da relação analista-analisante pelo seu desejo e dinâmica da transferência.