PSICANÁLISE COM CRIANÇAS: UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO SOBRE O LUGAR DOS PAIS

  • Kamilla da Silva Pinto Pontifícia Universidade Católica do Paraná
  • Nohemí Ibáñez Brown Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Palavras-chave: Psicanálise, Infância, Pais, Sintoma

Resumo

Este estudo tem como objetivo promover reflexões em relação a participação dos pais no atendimento psicanalítico de seus filhos. Refere-se a uma pesquisa pautada a partir das teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e Jacques Lacan em alguns pontos que denotam a psicanálise com crianças. Nesse sentido, a pergunta que orienta este trabalho é: que lugar os pais ocupam na análise da criança? Para Lacan (1969) os sintomas da criança referem-se a uma resposta em relação aquilo que há de sintomático na família, representando uma verdade, sendo ela do casal, ou ainda, a subjetividade da mãe. Em ambos os casos, a função do sintoma seria a de denunciar algo de conflitivo ou insuportável nestas relações. A criança pode ser interpretada como sendo o sintoma dos pais. Dolto elucida que os pais podem ser compreendidos como aqueles que constituem o meio real da criança, diante disso, eles podem ter necessidade de ajuda para enfrentar a volta da saúde do filho, pois o desaparecimento dos sintomas da criança, os coloca em estado de sofrimento reencontrado, em seus corpos e ou relações. Quando os pais solicitam atendimento para a criança, o psicanalista se defronta também com a problemática destes pais, ou seja, está diante de um enredo que enreda os pais e a criança. Para Lacan, há liames, nós e pactos estabelecidos no fundo de tudo aquilo que forma o drama humano. Aquilo que a criança representa para cada um de seus pais está relacionado com a história de cada um deles, os pais projetam seus ideais nela e é nesta condição que podem surgir os conflitos, pois, o nascimento de uma criança real pode não corresponder exatamente com o que os pais desejavam dela. Freud (1914) elucida que os pais atribuem perfeições aos filhos e ocultam suas deficiências, colocam a criança em posição de concretizar os sonhos que eles não puderam, o que remete ao amor dos pais a um narcisismo reencontrado, que transformou-se em amor objetal, revelando sua natureza anterior. Nesse sentido, se uma criança denuncia algo conflitivo através de seu sintoma ou ainda, de ser o sintoma de seus pais, o psicanalista deve ou não receber estes pais? Entende-se que não existe psicanálise com crianças sem a participação dos pais, pois, ainda que eles não compareçam fisicamente, de algum modo eles estarão presentes na cena analítica, através do próprio discurso da criança, sendo que a não participação dos pais, não inviabiliza um possível trabalho com a criança. Contudo, a participação presencial é importante, pois, se há entrelaçamento, implicação dos pais no sintoma da criança, é cabível ouvi-los, se estes assim desejarem. Escutar os pais não se refere a fazer análise com eles, mas pode ser entendido como algo que poderá proporciona-lhes questionamentos sobre seus conflitos, pois estando tão implicados entre si, um pode estar falando em nome do outro. Escutar os pais pode ser uma possibilidade para que cada um, a crianças e eles, possam sustentar o seu discurso, em seu nome e no seu devido lugar.
Publicado
2019-08-20
Seção
Psicologia