Persona e Sombra em Coringa

Resumo

Este trabalho tem o objetivo de apresentar a importância ética da assimilação da sombra e como a formação das personas se moldam de acordo com a dimensão cultural, política e econômica, assim como expectativas que relações interpessoais têm sobre o sujeito, aqui em especial, a relação entre o protagonista e a mãe. Arthur Fleck, personagem vivenciado por Joaquin Phoenix no filme Coringa de 2019, por Todd Phillips, sofre em virtude de um distúrbio no relacionamento com a mãe, o que resulta em um complexo materno, e a fim de ter a aceitação e conviver com as vontades da mãe, que o chama de “Happy” (Feliz) e o criou com o discurso de que ele sempre deveria estar sorrindo, não importam as dificuldades, o personagem acaba reprimindo suas dores e apropria-se da persona “Feliz”. A vivência de Arthur como “Happy” começa a ceder pois não consegue mais suportar a realidade do personagem, que está vivendo em uma cidade que não valoriza seu trabalho, cessou sua assistência médica e psicológica, e passa por uma crise sanitária, econômica e política, então, “Happy” encena ideações suicidas durante o longa, enfatizando seu sofrimento. O cenário caótico em que o protagonista se encontra faz com que uma nova persona se imponha sobre seu ego, persona essa, o “Joker” (Coringa), que se forma ao externalizar sua sombra e a violência que vinha sofrendo por ser o “Happy”, proporcionando que ele fosse enfim visto socialmente. A sombra possui uma função compensatória do ideal egóico, e se ela não for reconhecida, pode criar autonomia sobre o ego, podendo corroborar em comportamentos criminosos, tais como representados no filme. Ademais, a partir do método descritivo e qualitativo e de pesquisas bibliográficas, o presente estudo é pertinente uma vez que diante de uma realidade hostil e que não proporciona condições dignas para uma melhor qualidade de vida, a falta de assimilação da sombra pode se tornar um grande problema ético, já que a manifestação da sombra pode ocorrer por projeções de maneira individual e coletiva, e ao tomar o Brasil atual como exemplo, em que sofre tais crises supracitadas, se verifica a projeção da sombra em figuras políticas e/ou de poder, pela falta de tolerância do que não é de considerável aceitação própria para essas pessoas, o que vem provocando grandes atos de violência no país. Por fim, considerando Arthur como personagem representativo para exemplificação de uma intervenção, é necessário um meio de promoção da individuação do protagonista, com a psicoterapia, análise dos símbolos presentes no material psíquico, interpretação do que o levou a viver suas fantasias, como se mantêm e quais as defesas que ele utilizava, e assim, traçar o funcionamento de sua psiquê e a dinâmica de suas personas, a fim de que ele se torne único sem que precise se transformar no “Joker”, aceitando o que está em sua sombra e convivendo com ela de modo mais saudável.