PERDA GESTACIONAL E LUTO NÃO RECONHECIDO SOB UMA LEITURA FENOMENOLÓGICA

  • Giovana Harasemiv Garze IC, Psicologia, UNIBRASIL
  • Nicole Batista Krachenski UniBrasil
Palavras-chave: perda gestacional, luto perinatal, luto não reconhecido, luto não autorizado, fenomenologia

Resumo

A perda gestacional interrompe o vínculo entre gestante e bebê, impossibilitando o desenvolvimento da relação construída durante a gestação. Essa conexão, presente no corpo da gestante, carrega significados únicos e intrínsecos à experiência de quem gera outro ser. Neste sentido, este estudo tem como objetivo investigar de que maneira a perda gestacional se configura como um luto não reconhecido, tanto na vivência social quanto nos serviços de saúde. Para isso, propõe-se analisar os principais modelos teóricos do luto e refletir sobre a patologização desse processo. Em seguida, busca-se compreender as características do luto não reconhecido, revisar os conceitos relacionados à gestação e à perda gestacional, além de explorar a perspectiva fenomenológico-existencial como caminho para compreender essa experiência a partir da vivência subjetiva de quem a atravessa. Este estudo utilizou uma revisão integrativa da literatura para analisar de forma ampla e detalhada pesquisas sobre perda gestacional e luto não reconhecido. Foram selecionados artigos, capítulos de livros e dissertações em português, publicados entre 2014 e 2024, que abordassem diretamente o tema. Foram excluídos materiais repetidos, incompletos ou fora do escopo da pesquisa. A coleta de dados se deu no período de novembro de 2024 a dezembro de 2024 e foi realizada nas bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online), PePSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia) e CAPES (Portal de Periódicos da CAPES) com as palavras-chave “perda gestacional”, “luto perinatal”, “luto não reconhecido” e “luto não autorizado” nos resumos. Também foi utilizada a análise das referências dos artigos selecionados (busca manual ou snowballing) como um método complementar para identificar estudos relevantes. A pesquisa evidenciou aspectos recorrentes na vivência de mulheres que passaram por uma perda gestacional, os quais foram organizados em unidades de sentido conforme a abordagem fenomenológico-existencial. A primeira unidade, o bebê imaginário, destaca que a perda representa não apenas a morte física, mas o rompimento de um projeto afetivo idealizado. A segunda, perdas invertidas, remete à quebra do ciclo natural da vida, intensificando o sofrimento ao tratar-se da perda de um filho antes mesmo de seu nascimento social. A terceira, despreparo das equipes de saúde, aponta a carência de capacitação profissional para o acolhimento humanizado, o que compromete o cuidado integral. Já a quarta unidade, falta de validação social, revela a invisibilização do luto gestacional e seus impactos emocionais prolongados. A análise dos dados evidencia a complexidade do fenômeno e a necessidade de aprofundar a investigação para avançar no reconhecimento e cuidado da perda gestacional. Além disso, recomenda-se a atualização contínua sobre o tema, levando em conta que é um processo mutável, e destaca-se a Política de Humanização do Luto Materno e Parental (2025) como estratégia necessária.

Publicado
2025-12-12
Seção
Psicologia