OLHARES PARA O MUNDO DO TRABALHO A PARTIR DO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19

  • Fernanda Landolfi Maia Universidade Federal do Paraná - UFPR

Resumo

Para onde caminha o futuro do trabalho no contexto pós-pandemia? Esse é um dos inúmeros questionamentos que surgiram a partir das consequências que o cenário da pandemia da Covid-19 trouxe para a sociedade. Com impacto em todos os países do mundo, a pandemia motivou mudanças significativas no tocante à organização e desenvolvimento do trabalho, em função da adoção das modalidades de teletrabalho e home office.

As medidas orientadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o distanciamento social, por exemplo, foram propulsoras para a implantação de um arranjo de organização da prática laboral a partir do trabalho remoto em home office, com maior impacto para as empresas que não utilizavam o trabalho a distância. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o trabalho remoto no Brasil atingiu cerca de 8 milhões de pessoas, que seguiram trabalhando em home office, o que representou “10,7% dos 82,9 milhões de pessoas ocupadas e não afastadas” Para o sociólogo Ricardo Antunes, essas modalidades de trabalho a distância “mostram-se como modalidades que terão significativo crescimento na fase pós-pandêmica, em praticamente todos os ramos em que puderem ser implantados”.

 

Entre os aspectos a serem observados a respeito da modalidade remota como possibilidades para o campo do trabalho no período pós-pandemia, pode-se partir dos elementos positivos e negativos para possíveis análises. Para Bridi,[4] em pesquisa realizada sobre o trabalho remoto no contexto da pandemia da Covid -19, observa-se algumas facilidades apontadas pelos participantes da pesquisa, tais como “flexibilidade de horários (69,09%), deslocamento (66,23%) e menor preocupação com a aparência (58,61%)”. Entretanto, os autores ressaltam que aproximadamente 48% dos trabalhadores relataram que a modalidade a distância também possui aspectos negativos.

 

O nó górdio deste cenário é que, embora certos reflexos do trabalho remoto apresentem características condizentes à qualidade de vida, esta é uma modalidade que pode tornar borradas as fronteiras entre o que é espaço de trabalho e de não trabalho, assim como as jornadas ininterruptas em função dos aplicativos e softwares de controle podem unificar os tempos de trabalho e não trabalho. Ainda, faz-se necessário um olhar para os prejuízos nas relações de trabalho em função da própria dinâmica dos relacionamentos laborais, a partir das características próprias de cada área, que exigem dos profissionais o aprimoramento e usos contínuos das chamadas soft skills (habilidades emocionais). Há que se considerar. também, os efeitos econômicos e impactos sobre o profissional com relação aos custos com infraestrutura, internet, luz, entre outros, entretanto, acredita-se que a regulação do trabalho remoto em home office pode ser uma alternativa para que os profissionais que atuam nessa modalidade não tenham o repasse das despesas supracitadas.

Por fim, ressalta-se que as alterações na organização e execução do trabalho a partir do uso intenso das tecnologias, como o ocorrido no período pandêmico, podem transformar em definitivo inúmeras profissões que passam a transpor atividades que antes eram exclusivamente presenciais (como eventos, reuniões, conferências) para a via digital, acarretando em agilidade em muitos processos e atividades. Entre as várias tendências e poucas certezas, o que se pode dizer é que o futuro próximo comporta mudanças significativas e, quem sabe, definitivas para o mundo do trabalho.

Biografia do Autor

Fernanda Landolfi Maia, Universidade Federal do Paraná - UFPR

Doutora em Sociologia; mestre em Educação; bacharel em Ciências Sociais e Secretariado Executivo; professora do setor de Educação Profissional e Tecnológica e do mestrado profissional de Sociologia em Rede da UFPR

Publicado
2021-11-22
Seção
ACADEMIA UNIBRASIL