O SUJEITO PSICÓTICO E A FUNÇÃO DO DELÍRIO

  • Claudine Maria DE BONA
Palavras-chave: psicanálise, psicose, delírio

Resumo

Na psicanálise o delírio é visto como uma tentativa de cura e é portador de uma verdade. O objetivo desse resumo é abordar o conceito de delírio e sua função na estrutura psicótica baseado no texto de Briggs e Rinaldi (2014), que apresenta um caso clínico que embasa a discussão dos autores. O caso clínico relatado é o de “Roberto”, cerca de trinta anos, que levou um tiro no pescoço aos 18. Segundo relato de sua família, um bandido pediu a Roberto que fosse chamar um traficante em uma favela próxima, e quando este se negou, levou um tiro. A partir de então “ele nunca mais foi o mesmo”. Todavia, Roberto não se lembra disso e conta o incidente de forma diferente, onde relata que a polícia o confundiu com um traficante e por isso atirou nele. Em um centro de atenção psicossocial onde era atendido, Roberto relatava desordenadamente fatos sobre sua vida, entre eles, o fato de que ele fazia chover. Era o responsável pela chuva no país, e afligia-se por um apagão que haveria ocorrido anos atrás (realmente houve dois apagões voluntários na cidade de São Paulo em 2001 e 2002 visando racionamento de energia) onde faltaram água e luz em hospitais e escolas. Dizia ter recebido inúmeros telefonemas, inclusive da TV Globo, para que interviesse e fizesse chover. Inclusive com ameaças de morte se não o fizesse. Todos tentavam agradá-lo, para que fizesse chover. Mas depois que fez chover, ninguém ligou para agradecer. Desde então sentia que precisava fazer chover para que não o pegassem, “pois os malandros queriam matá-lo”. “Mas se fizessem isso eles iam ver, pois não ia mais chover”. O delírio psicótico de Roberto tem a ver com a posição dele em relação ao Outro e permite que saia da posição passiva para ativa. Ou seja, ele levou um tiro, mas agora é ele quem faz chover. O delírio como tentativa de cura. Na estrutura psicótica delirante, há uma tentativa de explicação e de cura. Na psicose não é possível recuperar o fragmento perdido de realidade, pois não foi recalcado, mas rejeitado, portanto, não acessível na psique. Então se cria uma verdade histórica, construída através do tempo, no lugar daquela que foi rejeitada.