A MEDICINA DOS CORPOS CRIMINOSOS EM TEMPOS DE INQUISIÇÃO

Palavras-chave: medicina, inquisição, criminosos

Resumo

A superstição é algo intrínseco à humanidade. Como boas criaturas simbólicas que somos, ou homo symbolicum, na expressão do filósofo Ernst Cassirer, temos a tendência natural de transgredir as fronteiras entre o natural e o sobrenatural. Embora hoje esse fenômeno esteja mais restrito à vida privada, há muito pouco tempo ele estava presente em diversas esferas da vida pública, incluindo nas práticas médicas ― não só nas chamadas práticas populares, mas também nas institucionalizadas. Curiosamente, a maioria dessas práticas tinham uma coisa em comum: estavam ligadas à crença no poder mágico dos corpos criminosos. Por séculos os cadáveres de criminosos serviram não apenas para o ensino da anatomia do corpo humano, mas também como fonte para a cura de doenças que assolavam a população. Os métodos de uso do corpo criminoso como potente elemento médico-místico não ficava restrito apenas à ingestão do sangue ou de ossos triturados (como visto na coluna passada), já que incluía também o simples toque da mão de um criminoso que tivesse sido enforcado. Entre os séculos XVI e XIX, os corpos de criminosos executados eram intensamente procurados para fins medicinais e não era incomum que um grande número de pessoas se reunisse em volta do cadafalso, com recipientes em mãos, prontos para coletar o sangue quente a jorrar do pescoço dos executados logo após o golpe fatal do carrasco, acreditando que o líquido serviria para curar doenças como epilepsia. Aqui, é preciso lembrar que, naquela época, medicina e magia andavam praticamente de mãos dadas e a noção da medicina como uma ciência com métodos rigorosos é muito mais recente do que se imagina. O presente estudo tem como objetivo analisar esse tipo de prática e como ela era vista sob os olhos da inquisição e de outras instituições da época. Para isso foi utilizado o método dedutivo, por meio de análise de livros e artigos científicos, bem como dados publicados por órgão oficiais. O atual estágio da pesquisa demonstra que tais práticas eram mais comuns em países protestantes, sem a atuação direta do Tribunal do Santo Ofício e que perduraram por muito tempo, até se fundirem com práticas mais atuais e menos chocantes.

 

Palavras-chave: medicina; inquisição; criminosos.

Biografia do Autor

Jocevaldo Rodrigues Macêdo, Universidade Cidade de São Paulo - UNICID

Graduando em filosofia na Universidade Cidade de São Paulo - UNICID. Escritor, jornalista e editor (assina como Jocê Rodrigues). Foi um dos coordenadores do Encontros de Leitura, do ITS (Instituto de Tecnologia e Sociedade) em parceria com a EMERJ (Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro). Consultor em casos de perícia e avaliação de obras de arte.

Publicado
2022-11-22

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