MAS ISSO NÃO: SEM SENTIDO, FILOSOFIA DO SENTIDO, HERMENÊUTICA DOS SINTOMAS

  • Rafael Otávio Ragugnetti Zanlorenzi Universidade Positivo
Palavras-chave: Filosofia do Absurdo, hermenêutica, sentido, sinthoma, sinthome madaquin, Psicologia Profunda.

Resumo

O sinthome madaquin que LACAN apresenta ao longo do seminário 23 expõe uma hipótese curiosa para a produção hermenêutica. Se a hermenêutica principia como uma preocupação que parte da linguagem para alcançar os termos técnicos pós-SCHLEIERMACHER como é capaz de incluir a preocupação psicológica de uma lalangue que transcende os limites da linguagem objetiva? RICOEUR atende à questão incluindo a psicologia como instrumento da renovação hermenêutica. Sua preocupação historicizante para o modelo hermenêutico está limitada a uma construção da psicologia profunda entre o cognoscível e repleto de sentido e um estado vivencial que, prenhe de sentidos possíveis, permanece na esfera do sem sentido. Creditamos tal perda de sentido a uma rota que permanece entre os existencialismos e as filosofias do absurdo, que diferem em razão das posturas diversas perante a multiplicidade de potências generativas (mundanidade) vivenciais (dilema SARTRE/CAMUS). Sob essa perspectiva, a dimensão vacante de linguagem racional depende da atitude de sangramento de significação que esvazia o traçado hermenêutico de possibilidades de significação posterior, ao passo que as perspectivas de HEIDEGGER e GADAMER representam a possibilidade de gerar sentido através da exegese. Por sua vez, o sem sentido camuseano resumiria as circunstâncias formativas de uma potência hermenêutica dentro de uma linguagem de rebelião e transgressão, a qual recuperaria, no sinthome madaquin, a travessia do espírito formador do sentido: tudo, menos isso. A expressão psicológica, ao mesmo tempo gozo e destruição, coloca a apropriação da linguagem como tarefa histórica e historicizante do hermeneuta, mas limita a apreensão do hermeneuta em si e do outro hermeneuta à possibilidade de condições historiais. O hermeneuta que somos ou que nos antecede coloca-nos para o gozo ou para a destruição quando tentamos persegui-lo e representá-lo. Daí converter-se em “mas isso não”, enquanto as demais representações (fantasmas aristotélicos) condenam-nos a uma eternidade irrealizada que garante nossa sobrevivência, mas que permanece falsa. O dilema foi posto por BECKETT em Endgame, na suposta aparição de outro ser humano na vastidão do mundo destruído exige dos dois últimos sobreviventes a decisão fatal entre sair e permanecer. Pretendemos demonstrar a hipótese de que o desgaste existencial da hermenêutica genuína possibilita o salto historial para a dimensão ontológica no modelo de geração de saltos epifânico-hermenêuticos. Nossos marcos teóricos são LACAN e HEIDEGGER, bem como a obra de CAMUS, especialmente no que tangencia a crítica a Descartes (O Homem Revoltado) e a Filosofia do Absurdo (O Mito de Sísifo), com método derivado da obra de BARTHES, a consistir no resgate ontológico pela impressão catártica deixada nos excertos selecionados.

Biografia do Autor

Rafael Otávio Ragugnetti Zanlorenzi, Universidade Positivo
Professor de Epistemologia, Filosofia Política e Teoria da Justiça da Universidade Positivo.
Publicado
2016-11-07