Os caminhos do "tornar-se mulher"
Resumo
A feminilidade inaugura uma questão para a Psicanálise e a mantém viva. Freud ensina que a constituição da sexualidade feminina se dá de modo radicalmente diferente do da sexualidade masculina. Uma mulher, sendo ela menina, mãe, filha ou esposa, expressa facetas relacionadas à sua sexualidade e à sua estruturação psíquica. Nas produções de Clarice Lispector, é possível encontrar mulheres que representam vivamente algumas das indagações atribuídas à feminilidade pela cultura ou mesmo formuladas pelas próprias mulheres. Para ilustrar algumas dessas questões utilizamos o conto lispectoriano denominado “A Fuga”. Freud atribuiu aos poetas ou aos escritores criativos um saber que antecipa o saber psicanalítico. Assim, foi no intuito de extrair consequências psicanalíticas da literatura de Clarice Lispector, que buscou-se uma articulação entre a feminilidade de acordo com a psicanálise e o conto da autora. O enigma feminino é decorrente da insuficiência que o Complexo de Édipo oferece a uma mulher para uma identificação sexual feminina, uma vez que esta não é suprida pela virilidade paterna e também não é oferecida pela mãe. A inexistência de tal significante, conforme o falo o é para o homem, produz o efeito da singularidade feminina, de modo que cada uma traça o seu próprio percurso para tornar-se mulher. A cultura, alçada na lógica fálica, segue produzindo questionamentos na busca de uma resposta que fale por todas as mulheres, mas Freud demonstra que cada mulher apresenta uma trajetória singular para o “tornar-se mulher”.
