OS (DES)CAMINHOS DA RUA: PARA ALÉM DAS CALÇADAS

  • Paulo Paduani de OLIVEIRA JUNIOR
Palavras-chave: psicologia social-comunitária, consultório na rua, população em situação de rua, redução de danos

Resumo

Com o crescimento acentuado da População em Situação de Rua (PSR) ao longo dos anos e a falta de atenção dedicada a ela pelo Estado, diversos setores da sociedade passaram a estudar o fenômeno de maneira a auxiliar de forma mais humana as necessidades às quais padecem. O tratamento que boa parte da população tem quando procura seus direitos não é garantido ao morador de rua, mesmo tendo o respeito à individualidade do sujeito instituído na Constituição Federal. O presente trabalho objetiva discutir a experiência de estágio do último ano do curso de Psicologia no Programa Consultório na Rua, da Atenção Básica de Saúde da cidade de Curitiba, durante o ano de 2014, de forma a articular aspectos teóricos e a realidade vivenciada na prática quando do acompanhamento das equipes multiprofissionais que atendem a PSR. Para a prática profissional da Psicologia, a experiência colaborou como exercício de uma escuta qualificada sobre a demanda do sujeito, considerando suas angústias e preocupações, sempre em busca do atendimento integral, resolutivo e responsável. Das questões apresentadas na vivência do estágio, mereceu destaque a dependência química e a Redução de Danos (RD) como estratégia de ação frente a essa problemática tão complexa. A RD é uma política e uma prática em saúde pública que visa diminuir as consequências e problemas adversos do consumo de drogas. Como política, compreende a autonomia do sujeito em suas decisões e busca reduzir as consequências para a sociedade, e como prática de saúde, visa reduzir os danos à saúde do sujeito que, indiferente da motivação, faz abuso de substâncias psicoativas. A RD é uma estratégia pragmática, em constante evolução, discussão e adaptação às realidades de cada grupo atendido, buscando a eficácia da atuação, e se instaura como alternativa à abstinência. As abordagens pautadas na RD têm se mostrado eficazes, tanto pelo cuidado paliativo no momento, como com efeitos duradores para a vida do sujeito, sem impor-lhe nada além daquilo que ele próprio, em sua autonomia, achar necessário fazer. A possibilidade de repensar o papel do Estado no auxílio à retomada da autonomia da vida destes sujeitos é um enorme avanço no pensamento de criação de uma sociedade mais igualitária e justa. O estágio que motivou a escrita do presente trabalho, fez com que repensasse o papel do psicólogo frente a estas desigualdades. Somos bombardeados de exemplos durante a graduação e importamos, sem darmos conta, o modelo clássico de atendimento, tanto clínico quanto social, de uma psicologia para elites, porém a maior parte da população que necessita realmente de atendimento não tem condições de arcar com os custos.