Depressão e Psicose Pós-parto
Resumo
A maternidade que envolve o imaginário popular traz consigo todo um processo ao qual, remonta à um momento de plenitude feminina, no entanto, esta fase traz uma problemática que merece atenção: a relação psíquica entre a mãe e o bebê e consequentemente como irá se dar esta relação na prática, não somente no que se refere à gestação e ao parto, mas também aos primeiros passos em direção a esta importante transição na vida de qualquer mulher: o de tornar-se mãe. É importante ressaltar que ser mãe envolve perdas e ganhos para toda mulher e de diversas naturezas, seja pela possível perda da liberdade, ou o ganho de onipotência que a maternidade dá a algumas mulheres. Os primeiros dias após o nascimento serão decisivos para os meses que seguirão, pois, os conflitos psíquicos e as ressignificações várias pelas quais as mulheres têm que passar, fazem parte de um novo começo rumo a uma jornada com o filho. A tristeza, a sensação de deslocamento e a insegurança, consideradas habituais ao postpartum, podem dar lugar à um agravamento psíquico paranoide em que a mãe mergulha em um estado depressivo grave ou mesmo psicótico, sendo este cenário o que merece um olhar mais atento. Isto pode ocorrer devido à sucessão de lutos que a mulher enfrenta que se caracterizam pela perda da sua posição de mulher para agora a de mãe, à perda da idealização do bebê fantasiado para o real, como também por diversos movimentos regressivos que a psique da mulher enfrenta por reviver a relação com sua própria mãe, esta que pode ser de natureza mais primária, de angústias persecutórias, até eventos traumáticos. O bebê por sua vez, a partir da leitura kleiniana das relações maternas é, em sua fase mais primitiva, primordialmente dominado pela pulsão de morte ao que, abre-se espaço para uma questão relevante: no movimento de projeção e introjeção de conteúdos psíquicos entre a mãe e o bebê, o estado depressivo e/ou psicótico materno pode ser desencadeado pelo sadismo projetado pelo bebê na mãe a partir do nascimento? Ou ainda, na falta de suporte psíquico materno, esta dinâmica só faz acentuar a fase esquizoide do recém-nascido agravando esta relação com a mãe em surto e possivelmente acarretando prejuízos na construção egóica do bebê? Objetiva-se desta forma, engendrar uma investigação em torno destes eventos psíquicos que trazem inúmeros questionamentos no que se refere à uma compreensão mais minuciosa do que é para a mulher ser mãe e como o bebê contribui com seus conteúdos inconscientes. Com base nesta reflexão teórica, a intenção é a de aprofundar-se na ligação psíquica entre a mãe e o bebê, em uma relação que, pode não parecer a idealizada pela maioria, e nem deveria ser, pois no campo do afeto o ideal dificilmente pode ser concretizado e a relação entre a mãe e bebê é uma das mais concretas e edificantes que se tem notícia.
Referências
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